Eco
Élio Camalle
Minha voz vem dos gritos de negros escravos
Vem dos povos aflitos de revolução
Do gemido da fome que grassa o nordeste
É a veste do eco do primeiro som
Minha voz vem dos ventos que agitam oceanos
Desde mil novecentos, bem antes do nada
Vem do brado guerreio dos Deuses do Olimpo
É o garimpo do verbo dos símios, primatas
Minha voz vem das selvas do guizo de cobras
Vem do canto dos rios, da fera acuada
Do zunido da flecha de um tucarramãe
Do som que produz o coração do astronauta
Minha voz vem da obsessão dos poetas
Vem dos músculos fortes de um estivador
Dos filósofos loucos, visões dos profetas
Do choro do bebê na hora do parto
Minha voz vem da soma de todas as eras
É meu único meio entre o bem e o mal
Do machado de pedra ao computador
É o alívio da alma na corda vocal
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