Nonada
Zebeto Corrêa
Era João, era Rosa
Poesia e prosa no Grande Sertão
Era um boi, era o baio
Um olhar de soslaio, era Deus, era o cão
Era a morte, era a vida
Travessia infinda do Sussuarão
Era pau, era pedra
O descanso, a refrega
O destino e a vereda na palma da mão
Era um raio, era um rio
Os Gerais por um fio, era febre, sezão
Era o brilho da estrela
E eu sem poder vê-la perdi a razão
Urutau lamentando
Os seus “ais” me agourando só na solidão
Era sal, era doce
Era bom e acabou-se
A espera é uma espora no meu coração
- Que é do sertão
E o que foi que fizeram do velho Chico?
- Nonada, João!
Seu imaginário é que era tão rico
Carro de boi sumiu
Numa estrada de asfalto sem fim
O Sol e a Lua no céu, Diadorim
E o livro da vida se abrindo pra mim
Era o corpo fechado
O duelo marcado, uma forte oração
Era cobre, era ouro
O Tao e o tesouro, era sim e era não
Era o bem e a maldade
O amor e a saudade, uma revelação
Era fogo, era água
Era o riso e a mágoa
A loucura é o avesso da nossa ambição
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