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Sacramentos Campeiros

Telmo de Lima Freitas

Foi num resto de domingo
O Sol já ia entrando
Na estância vinha chegando
Um xiru desconhecido
Parecia usar vestido
Com um tipo de capelão
Primeira vez na região
Que aparece esse indivíduo

Dois ou três se levantaram
Olhando muito assombrado
E um tio velho acocorado
Sentado nos carcanhá
Não podia divulgar
Antes de passar a cancela
E o Nicácio, tagarela
Começou a imaginar

Garanto que é o comissário
Que se vestiu de viúva
Pra prender o Cabriúva
Que ontem veio da cidade
Isso é uma barbaridade
Esse cristão não se emenda
Resolveu trocar a fazenda
Por uma casa com grade

Quando olharam pra cancela
Ele já tinha passado
Vinha num tranco marchado
Se arribando pro galpão
Um foi bater os tição
Para esperar a visita
E o Nicácio, mui gasguita
Correu chamar o patrão

Chegou lá, fez um alarme
Pra falar, se atrapalhou
O patrão já calculou
Quem é que tinha chegado
Já tinha sido avisado
Que em breve o capelão
Chegaria até o rincão
Pra fazer uns batizado

Ali se cumprimentaram
O patrão muito atencioso
Franqueou o galpão pra pouso
Ofereceu chimarrão
Mandou puxar o alazão
Para ser desencilhado
Lavar bem o lombo suado
E soltar num potreirão

O capelão, mui buenacho
Gostava da gauchada
Levou indagar a peonada
Se eram solteiros ou casados
O Nicácio, encabulado
Começou a conversar
Eu tenciono me casar
Por enquanto eu sou juntado

Muito bem, vamos dar jeito
Eu ando pra esse fim
O que estiver em mim
Estou à disposição
Não precisa aprontação
Pra gaúcho se casar
Pode ser como está
De chinelo ou pé no chão

E o senhor, seu Cabriúva
Que idade é que tem?
Eu já não me alembro bem
É noventa e uns quebrado
Tenho bisneto sordado
E se não fizer diferença
Eu quero casar co’a Proença
Que nunca fumo casado

Marcaram pra terça-feira
Casamento, batizado
O rincão foi avisado
Pelo próprio capelão
Encilhou seu alazão
E saiu batendo casco
Pra convidar pra um churrasco
Na estância do patrão

Terça, ao clarear do dia
A peonada já carneando
O pessoal vinha chegando
Em direção à festança
Tia Proença de trança
Vestidinho de riscado
E no lenço trazia atado
O seu par de alianças

Fizeram a cerimônia
Debaixo de uma figueira
E a Virgem Santa Padroeira
Foi exposta num altar
Os primeiros a casar
Foi Cabriúva e Proença
Que receberam a bença
Naquele humilde lugar

Depois chegou o Nicácio
Repontando a filharada
Que ia ser batizada
Despôs do seu casamento
Estava muito atento
Olhando para o altar
Que ali ia se realizar
O seu desajuntamento

Se ajoelharam os dois
Em cima de um tirador
O capelão, com fervor
Fez a interrogação
- Aceita, Tia Conceição
Como legítima esposa?
- Vou lhe dizer uma coisa
Aceito com as duas mão

Saiu os dois casamentos
E seguiu os batizados
Todo o rincão ajoelhado
Radiando de alegria
Naquele instante se ouvia
A reza do capelão
Que distribuía bênção
Naquele sagrado dia

Terminou a cerimônia
O Sol já ia entrando
O pessoal foi se arredando
Pras bandas dos rancherio
Naquele pago sadio
Deus enviou o capelão
Pra distribuir ao rincão
O que Jesus distribuiu


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