Sertão
Orlando Morais
Noite interminável
Manhã que não chega
E o céu nunca mais vai se apagar
Cego escuridão de noite vesga
Vesga a saudade a me matar.
Tinha você aqui tão perto
No pulso, marcando as horas
Chamando chuva, cantando
Sorrindo um chora-não-chora
Rezando de hora em hora
Quem de mim te levou?
De nós a vida inteira?
Amor, amor, meu amor
Minha vontade derradeira
Me conta quem te roubou
Meia-noite, sexta-feira.
Deus, Pai nosso, meu e seu
Meu amor quer me deixar
Chorou porque não choveu
Tarde rosa empreteceu
Quer plantar roça no mar
Diz que aqui volta mais não
Soja, milho e tomate
Chita, estrada e mascate
Poeira, estrela, sertão
Diz que fez sua parte
E aqui volta mais não
Levou das rosas o perfume
Das pétalas, toda beleza
Roubou da janela a vista
E do rio, a correnteza
E Deu fechou a janela
E a luz do sol foi-se embora
Eu aqui só penso nela
Penso nela a toda hora
Finjo pensadno que durmo
Durmo velando essa história.
Catira, meu Deus!
Catira
Catira que eu quero ver
Catira, meu Deus!
Catira
Castiga, pra eu não morrer.
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