Lei de Gérson, óleo sobre tela
Marianna Leporace
Idéias eu jogo no lixo
Os sonhos eu jogo no bicho
Projetos eu rasgo
Meu nome eu engasgo
O que é pra gritar eu cochicho
Se alguém perguntar eu respondo
Que o mundo é quadrado e redondo
Se eu digo o que sinto
Na hora eu desminto
O que é pra mostrar eu escondo
O que ainda não é já morreu, nunca foi mas já foi pro museu
Meu auto-retrato, natureza morta
Atrás da porta, minha covardia
O que eu sou se rende na noite vazia
E se a fogueira acende eu jogo água fria
Não faço questão do que eu quero
Se for demorar eu espero
Castigo eu agüento
Pretexto eu invento
Pra nunca ser muito sincero
Se a vida me ofende eu não ligo
Não quero e não faço inimigo
Me curvo, me abaixo
Não vou e não racho
O que é pra dizer eu não digo
O que ainda não é já morreu ...
Eu sei controlar meu desejo
Se for pra não ver eu não vejo
Eu sou bem mandado
Mas por outro lado
Se for pra gritar eu gaguejo
Por mais que pareça confuso
Eu mesmo me uso e me abuso
Me culpo e me nego
Me prendo e me entrego
Me mato e ainda me acuso
O que ainda não é já morreu ...
Me vendo no preço do dia
Aceito qualquer mixaria
Não tenho bandeira
Nem eira nem beira
O medo me faz companhia
Em troca de rango e salário
Eu faço o que for necessário
Invento mentira
Quem sabe se vira
Quem diz a verdade é otário
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