Ardinita
Gonçalo Salgueiro
Ó minha mãe, minha mãe
Ó minha mãe, minha amada
Ó minha mãe, minha mãe
Ó minha mãe, minha amada
Quem tem uma mãe tem tudo
Quem não tem mãe não tem nada
O ardinita, o João, levantou-se muito ledo
Porque tinha que estar cedo
Á porta da redacção
Trincou um naco de pão
Que lhe soube muito bem
Antes de partir porém
Beija a mãe adormecida
Dizendo cá vou á vida
Ó minha mãe, minha mãe
A mãe com todo carinho
Deitou-lhe a bênção, beijou-o
E depois aconselhou-o
Sempre muito juizinho
Toma conta no caminho
Não fumes, não jogues nada
Pode ficar descansada
Disse ele para a iludir
E tornou-se a despedir
Ó minha mãe, minha amada
Cruzou toda a Madragoa
Satisfeito, a assobiar
Uma marcha popular
Do São João em Lisboa
Nisto pensou
É tão boa a Minha mãe, e contudo
Como é engano, a iludo
E lhe minto, coitadinha
Gramo tanto essa velhinha
Quem tem uma mãe, tem tudo
Nesse calão repelente
Da gíria da malandragem
Existe o que de homenagem
Nessa boquita inocente
Marcha pro jornal contente
Sempre de alma levantada
E como calão lhe agrada
Repete como eu a gramo
Tanto lhe quero, tanto a amo
Quem não tem mãe, não tem nada
Tanto lhe quero, tanto a amo
Quem não tem mãe, não tem nada
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