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Ouço os gritos do silencio
Mas estou engasgado na memória
E o muro das lamentações
É só um ponto de murmúrio pras suas confições
E o desatino é o desabafo de uma inglória
Uma inglória falta de coragem

Não ouço os meus gritos

E a morbidez que consome e destrói nossos mortos vilipendiados
Cadáveres insones
A carne que dói nas entranhas da alma
E eu quero esquecer de tudo
Mas continuo engasgado na memória
E só o que resta são gritos silenciosos

Não ouço os meus gritos

Enquanto os órfãos da ignorância passeiam nas calçadas disformes
Ignorados
Perdidos na mendicância
Não quero dormir do lado de fora
Fechar os olhos e sumir
Simplesmente ir embora
Mas ainda estou engasgado na memória

Não ouço os meus gritos

A caixa que protege também esconde
E o perigo anda solto
E lambe meus pés de noite
Eu vou sair
Salvar o morto
Me agarrar a ele
E vamos dançar
Mas estou engasgado na memória

Não ouço os meus gritos


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