Chimarrão

Velho porongo crioulo
Te conheci no galpão
Trazendo meu chimarrão
Com cheirinho de fumaça
Bebida amarga da raça
Que adoça o meu coração

Bomba de prata cravada
Junto ao açude do pago
Quanta china ou índio vago
Da água seu pensamento
De alegria, sofrimento
De desengano ou afago

Te vejo na lata de erva
Toda coberta de poeira
Na mão da china faceira
Ou derredor do fogão
Debruçado num tição
Ou recostado à chaleira

Me acotovelo no joelho
Me sento sobre o garrão
Ao pé do fogo de chão
Vou repassando a memória
E não encontro na história
Quem te inventou, chimarrão

Foi índio de pelo duro
Quando pisou neste pago
Louco pra tomar um trago
Trazia seca a garganta
Provando a folha da planta
Foi quem te fez mate-amargo

Foste bebida selvagem
E hoje és tradição
E só tu, meu chimarrão
Que o gaúcho não despreza
Porque és o livro de reza
Que rezo junto ao fogão

Embora frio ou lavado
Ou que teu topete desande
Minha alegria se expande
Ao ver-te assim meu troféu
Quem te inventou foi pra o céu
E te deixou para o Rio Grande

Chimarão

Porongo criollo viejo
Te conocí en el almacén
Trayendo mi chimarrão
Con olor a humo
Bebida de raza amarga
que endulza mi corazon

Bomba plateada con pinchos
Junto a la presa de pago
¿Cuántos chinos o indios hay vacantes?
Del agua tus pensamientos
De alegría, sufrimiento
De desilusión o cariño

Nos vemos en la lata de marihuana
Todo cubierto de polvo
De la mano de faceira china
O alrededor de la estufa
Inclinado sobre un tizón
O apoyado en la tetera

me doy un codazo en la rodilla
Me siento en el gran hombre
Al pie del fuego
repasaré el recuerdo
Y no puedo encontrarlo en la historia
¿Quién te inventó, chimarrão?

Era un indio de pelo duro
Cuando ingresaste a este pago
Loco por tomar una copa
mi garganta estaba seca
Probando la hoja de la planta
Él fue quien te amargó

Eras una bebida salvaje
Y hoy eres tradición
Y solo tú, mi chimarrão
Que el gaucho no desprecia
Porque eres el libro de oraciones
Que rezo junto a la estufa

Aunque esté frío o lavado
O que se te caiga el mechón
mi alegría se expande
Verte así es mi trofeo
Quien te inventó se fue al cielo
Y te dejé por Río Grande

Composição: Poema De João Da Cunha Vargas