Floreios pra um peão de campo
César Oliveira e Rogério Melo
A madrugada se atora
No tirão da recolhida
Quando a tropilha estendida
Traz nos encontros a aurora
Um contrapunto de esporas
Junto ao galpão se abaguala
Numa cadência que embala
A mais pampeana das ânsias
Que castiga o peão de estância
Mas nem com reza embuçala
É assim no mais o volteio
Onde a lida dita das normas
Do potreiro vem pra forma
Da forma vai pro arreios
Macanudaço floreio
Que se arrincona a função
Pois no virar do chergão
Sinto que a vida atropela
E o mundo entrega as costelas
Quando se aperta um cinchão
De sol a sol sem sossego
Depois do ritual da encilha
Busca a volta e se enforquilha
Porque ali não tem arrego
Se ajoujam, mágoas e apegos
Do jeito que mais convém
Nunca falta ou sobra alguém
Na voz de vamo que atrai
Pois lá quem tem poncho vai
E quem não tem vai também
Pra um peão de campo a volteada
Sem refugo vai ou racha
Embora o peso da marcha
Deixe a alma acalambrada
Pra um peão de campo as bolcadas
São tocaias do destino
Que às vezes por ser malino
Sem querer nega socorro
Pois quem corta rastro de sorro
Roda e só sai por dom divino
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